A IMAGEM QUE SÓ SI OLHA

Performance

"O Espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens" - Guy Debord, 1967.

A análise de Debord parte da experiência cotidiana do empobrecimento da vida vivida, de sua fragmentação em esferas cada vez mais separadas, bem como da perda de todo aspecto unitário na sociedade. O Espetáculo consiste na reconposição, no plano da imagem, dos aspectos separados. Tudo o que falta à vida se encontra nesse conjunto de representações independentes que é o espetáculo. Podem-se citar, como por exemplo as celebridades, atores ou políticos, que estão encarregados de representar esse conjunto de qualidades humanas e de alegria de viver que está ausente da vida efetiva de todos os outros indivíduos, aprisionados em papéis miseráveis. "A Separação é o alfa e o ômega do espetáculo" e, se estão separados uns dos outros, os indivíduos só encontram sua unidade no espetáculo, onde "as imagens que se afastaram de cada aspecto da vida fundem-se num curso comum". Mas os indivíduos encontran-se reunidos nele apenas "como separados", porque o espetáculo açambarca para si toda comunicação: esta se torna exclusivamente unilateral, o espetáculo sendo aquele que fala em quanto os "átomos sociais" escutam. O Espetáculo não é, pois, uma pura e simples adjunção ao mundo como poderia ser uma propagando difundida pelos meios de comunicação. A atividade social inteira é que é captada pelo espetáculo para seus próprios fins. Do urbanismo, aos partidos políticos de todas as tendências, da arte a ciência, da vida cotidiana às paixões e aos desejos humanos, em toda parte se encontra a substituição da realidade por sua imagem. E, neste processo, a imagem acaba por se tornar real, sendo causa de um comportamento real, e a realidade acaba por se tornar imagem.

Intervenção-Obra-Experiência pontual e efêmera realizada no Encontro Internacional de Imagem Contemporânea.

Fortaleza, 2009.

48h DITADURA NUNCA MAIS

Performance


A Performance A Sala Clara da Tortura foi impulsionada graças a proposição de uma ação coletiva intitulada: 48h DITADURA NUNCA MAIS.

Proposição: Convidamos a todos os artistas, produtores culturais, Quadrilhas e Pássaros Juninos, Grupos Folclóricos, Escolas de Samba, Blocos de Carnaval, amantes da arte e cidadãos em geral para realizarem 48h DITADURA NUNCA MAIS nos dia 31 de março e dia 01 de abril. Mais uma Ação de resistência ao período hediondo em que nem mesmo se podia reunir mais de três pessoas nas ruas para reivindicar os seus direitos, homens e mulheres brasileiras foram brutalmente assassinados por defenderem a democracia em nosso país... Hoje cabe a nós resgatarmos a memória da história recente do Brasil que os vendidos de sempre tentam apagar. Qualquer manifestação que elucide, execre, denuncie as atrozes práticas desse nefasto período é bem-vinda nas 48h DITADURA NUNCA MAIS, um espaço aberto que tem apenas a data fechada nos primeiros dias do famigerado golpe militar de 64. Golpe este que implantou a DITADURA que a Folha de São Paulo afirma não ter existido de 1964 a 1985 no Brasil.
A articulação do evento começou a partir de conversas entre os artistas Arthur Leandro e Lúcia Gomes.
Textos de teor saudosistas que amenizam a violência dos governos militares foi o mote para que ambos resolvessem provocar a reação. “Afinal os artistas também foram peça-chave para a reação, contestação da ditadura”, Afirma Arthur Leandro.

Situ-Ação: Atendendo o convite para o 48h DITADURA NUNCA MAIS o Coletivo Curto-Circuito propôs e realizou a Performance: A Sala Clara da Tortura.
Para construirmos as Situ-Ações Performativas centramos nossa atenção no processo de construção da Instalação Sala Escura da Tortura.
Trechos do Jornal O POVO: “Após ouvir relatos do Frei Tito, os artistas organizaram uma dramatização dos diversos métodos de tortura – pau-de-arara, choque elétrico, queimadura de cigarros”... Jovens franceses fizeram as performances, orientadas atentamente por Frei Tito “Ele estava fazendo aquela reconstituição com enorme conflito emocional”, recorda Gontran. As dramatizações foram fotografadas por Julio Le Parc. “A partir das imagens, Le Parc, Marcos, Gamarra e Gontran uniram seus diferentes estilos em um projeto único.”
A Sala Clara da Tortura
trata-se de uma volta para a encenação, mas já não para a exclusividade da câmera fotográfica e sim para o contado expandido do espaço circundado, por isso a idéia de tornar a sala escura em sala clara, isto é, desenvolver uma experiência na luz do dia e do diálogo público criando interferências nos espaços urbanos da cidade de Fortaleza.
O Coletivo desenvolveu laboratórios onde se exploraram as imagens produzidas na instalação do Grupo Denúncia buscando uma leitura sobre os depoimentos-memórias do Frei Tito objetivando criar situações-realidade de forma imediata explorando a ambigüidade entre arte-ação e a vida real.

Documentação:

Intervenção-Obra-Experiência #1
Fortaleza-CE, 31/03/09.
Coletivo Curto-Circuito, Fortaleza, 2009.


Intervenção-Obra-Experiência #2
Fortaleza-CE, 01/04/09.
Coletivo Curto-Circuito, Fortaleza, 2009.

Ocaso

Performance

Performance inspirada na Trágica visão do homem: Ato sem Palavras II de Samuel Beckett . Nesta, assiste-se outra vez a uma parábola da existência humana, da vida rotineira, monótona, absurda e que Camus tão bem expressa, quando escreve, em O Mito de Sísifo: Levantar, bonde, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, quatro horas de trabalho, refeição, sono e segunda-feira terça feira, quarta-feira quuinta-feira sexta-feira e sábado no mesmo rítmo, este caminho se segue facilmente a maior parte do tempo.
É a vida e seu círculo vicioso: qualquer que seja aquilo que se faça, ou como se faça, lá está a morte a aguardar o homem.
Na performance Ocaso a câmera de vídeo funciona como um achado que permite a criação de colagens multimídia de uma elegante simplicidade. A idéia é conectar a câmera no projetor multimídia, permitindo a composição de imagens ao vivo, gravando e projetando a performance em tempo real. Durante a performance, a câmera de vídeo funciona como uma extensão do corpo, isto é, as imagens de vídeo funcionam como artefatos-espelho para a persona da performance.

Documentação:

Performance realizada no Poetcosmos, Teatro SESC de Iracema, Fortaleza, 2008.

Dança Muda em Deca Coordenadas

Performance

Concepção:
O espetáculo Dança Muda em Deca Coordenadas é fruto de uma pesquisa transmídia que pode ser lançada no palco ou em espaços fechados. As palavras-chave “homem”,“comunidade”, “cultura”, “linguagem”, “família”, “educação”, “regras”, “religião”, “controle” e “sociedade” vão organizar a dramaturgia do espetáculo, engendrando uma narratividade de amplas possibilidades sígnicas.
A encenação se inscreve no que tem sido chamado de teatro gestual ou teatro de dança, apresentando um vocabulário corporal elaborado, mesclado com recursos visuais de projeção de imagens, poesia e música eletrônica.

Proposta:
O espetáculo Dança Muda em Deca Coordenadas pretende fazer visível o mundo cultural, isto é, fazer visível um sistema de significações já estabelecido, de modo que, ao nascer, uma criança encontra um mundo de valores já dados: o jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom de voz nas conversas, as relações familiares, tudo, em fim, se acha codificado. Até na emoção que pareceria uma manifestação espontânea, o homem fica a mercê de regras que dirigem de certa forma a sua expressão. Podemos observar como a nossa sociedade, preocupada com a visão estereotipada da masculinidade, vê com complacência o choro feminino e o recrimina no homem. O próprio corpo humano dificilmente é apresentado como mera anatomia de tal forma que é quase impossível falar em “nu natural”: todo homem já se percebe envolto em panos e por tanto em interdições pelas quais é levado a ocultar sua nudez, em nome de valores (sexuais, amorosos, estéticos) que lhes são ensinados. E mesmo quando se desnuda, o faz também a partir de valores.
Como fica a subjetividade diante desta herança social? Há o risco do indivíduo perder sua liberdade e autenticidade (e será que algum dia existiram?). É o que Heidegger, filósofo alemão contemporâneo, chama de mundo do “Man”. Esta expressão alemã designa a impessoalidade: Veste-se, come-se, pensa-se, não como cada um gostaria de viver, mas como a maioria o faz.
Os sistemas de controle da sociedade aprisionam o indivíduo numa rede sem saída. Frente a essa condição, o espetáculo Dança Muda em Deca Coordenadas apresenta um corpo que dramatiza, caracturiza, enfatiza e transgride a realidade operativa refletindo o homem na sociedade.

Ficha técnica:
- Pesquisa, criação e encenação: David da Paz
- Ambientação Sonora: David da Paz e Lindenberg Munroe
- Poesia: Airton Lima
- Composição e programação visual: David da Paz, Fred Benevides e Naiana Cabral
- Manipulação dos recursos visuais: Fred Benevides e Naiana Cabral
- Figurino e objetos: David da Paz
- Produção: Escola de Bens Imateriais
- Realização: Coletivo Curto-Circuito

Documentação:

Performance realizada na Mostra de Música Experimental, Teatro SESC Emiliano Queiroz, Fortaleza, 2006.

A Situação é um Porre!

Performance

Descrição:
A performance A Situação é um Porre! Trata-se de uma proposição cênica inspirada no vídeo A Situação de Geraldo Anhaia Melo (São Paulo, 1978, 9min, Portapack – 1/2 polegada, open reel, Sony, formato original).
Na performance A Situação é um Porre! O performer David da Paz senta-se diante de uma mesa e bebe 1 litro de cachaça fazendo “brindes” à situação cultural, política, social e econômica brasileira.
A ação cênica é pontuada por argumentações teóricas pré-gravadas (Som Over) retiradas do texto A Democracia, que arapuca! de Anselm Jappe publicado na Revista Praga, nº 4, 1997. Essas argumentações teóricas são justapostas a gravações sonoras retiradas do filme A Sociedade do Espetáculo (1973) de Guy Debord
Na performance A Situação é um Porre! a câmera de vídeo funciona como um achado que permite a criação de colagens multimídia de uma elegante simplicidade. A idéia é conectar a câmera no projetor multimídia, permitindo a composição de imagens ao vivo, gravando e projetando a performance em tempo real e mesclando com palavras confeccionadas e projetadas em slides, retiradas do texto Idée generale de la revólution au XIX siècle de Proudhon.
Durante a performance, a câmera de vídeo funciona como uma extensão do corpo, isto é, as imagens de vídeo funcionam como artefatos-espelho para a persona da performance.

Ficha Técnica:
- Pesquisa, criação e encenação: David da Paz
- Composição de recursos visuais: David da Paz, Naiana Cabral e Hugo Pierot
- Manipulação de recursos visuais: Naiana Cabral e Hugo Pierot
- Adaptação de texto, gravação e mixagem: David da Paz
- Produção: Escola de Bens Imateriais

Documentação:

Performance realizada na Casa da Santa - Projeto Balbucio, Fortaleza, 2006.